02/01/14

 
 
 
   Estou sentado à minha janela, na tarde do mesmo dia, e contemplo a cidade, que se estende a meus pés, banhada pelo crepúsculo. Os sinos cessaram os seus dobres. As cúpulas dos templos e as habitações dos homens começam a desvanecer-se na obscuridade. O fumo da pira funerária serpenteia pelo meio de tudo o que os meus olhos avistam, e o seu cheiro ácido chega às minhas narinas. Um véu espesso estende-se sobre tudo; dentro em pouco, a escuridão será completa.
   Terá a vida uma finalidade? Para que serve ela? Qual é o seu sentido? Porque continua ela sempre, tão melancólica e vazia?
   Volto para a terra o archote que me ilumina, para o extinguir, e é a noite.
 
 
 
  Lagerkvist, Pär. O Anão. Lisboa: Antígona Editores, 2013, p 163.
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